sexta-feira, 9 de julho de 2010

derr amar

Ela escrevia em seu caderninho: derrama-me luz intensa. Olhava para o menino e imaginava ele lendo seus versos. Sabia que isso não aconteceria. E qual o problema? A maior parte dos filmes que assistira até então contém coisas que não aconteceriam também... E por que não transformar seu amor em ficção? No máximo, veriam como um exorcismo sadio.

Obsessão? De forma alguma. O hábito de aparecer no parque, justo na hora que seu querido fazia sua corrida, era sua forma de namorá-lo. E ele só precisava existir. Mas quem entenderia isso? Por isso que a mocinha não contava a ninguém.

Num dia de chuva, passeando pelo dicionário, ela se deparou com uma palavra nova: lucipotente. O significado, sem querer, ela já até tinha transformado em versinho para seu não-morado. Ficou repetindo em voz alta, para degustar o som: lu-ci-po-ten-te. Seu amor, a partir de então, não era mais platônico, era lucipotente. Iluminando tudo, derramando luz intensa.

Deborah O'Lins de Barros,
lucipotenciada por Álvares de Azevedo em 09/07/2010