sexta-feira, 9 de julho de 2010

derr amar

Ela escrevia em seu caderninho: derrama-me luz intensa. Olhava para o menino e imaginava ele lendo seus versos. Sabia que isso não aconteceria. E qual o problema? A maior parte dos filmes que assistira até então contém coisas que não aconteceriam também... E por que não transformar seu amor em ficção? No máximo, veriam como um exorcismo sadio.

Obsessão? De forma alguma. O hábito de aparecer no parque, justo na hora que seu querido fazia sua corrida, era sua forma de namorá-lo. E ele só precisava existir. Mas quem entenderia isso? Por isso que a mocinha não contava a ninguém.

Num dia de chuva, passeando pelo dicionário, ela se deparou com uma palavra nova: lucipotente. O significado, sem querer, ela já até tinha transformado em versinho para seu não-morado. Ficou repetindo em voz alta, para degustar o som: lu-ci-po-ten-te. Seu amor, a partir de então, não era mais platônico, era lucipotente. Iluminando tudo, derramando luz intensa.

Deborah O'Lins de Barros,
lucipotenciada por Álvares de Azevedo em 09/07/2010

Um comentário:

  1. poça d’água


    sob meus pés as nuvens
    e as estrelas abaixo delas

    além muito além
    da teoria de toda matéria - há matéria -

    no infinito meus pés
    estão encharcados

    não de chuva nem de orvalho
    não de suor ou urina do caralho

    nem de lágrimas do corpo
    nem da brisa em sopro

    mas de água da poça
    que ainda há no gramado

    ali onde meus pés
    sobre a grama entre os talos

    se refletem na lâmina fria
    que se converte em poema

    nada se ouve senão os sentidos
    dos sonhos que redivivo

    agora as estrelas
    em estridentes alaridos

    entre tristes dentes me enxaguam
    de lágrima suor e urina que vazam

    - sobre meus pés -

    ali onde o silêncio habita o cosmos
    que neste convés se revela fósforo

    www.escarceunario.blogspot.com

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