Ela escrevia em seu caderninho: derrama-me luz intensa. Olhava para o menino e imaginava ele lendo seus versos. Sabia que isso não aconteceria. E qual o problema? A maior parte dos filmes que assistira até então contém coisas que não aconteceriam também... E por que não transformar seu amor em ficção? No máximo, veriam como um exorcismo sadio.
Obsessão? De forma alguma. O hábito de aparecer no parque, justo na hora que seu querido fazia sua corrida, era sua forma de namorá-lo. E ele só precisava existir. Mas quem entenderia isso? Por isso que a mocinha não contava a ninguém.
Num dia de chuva, passeando pelo dicionário, ela se deparou com uma palavra nova: lucipotente. O significado, sem querer, ela já até tinha transformado em versinho para seu não-morado. Ficou repetindo em voz alta, para degustar o som: lu-ci-po-ten-te. Seu amor, a partir de então, não era mais platônico, era lucipotente. Iluminando tudo, derramando luz intensa.
Deborah O'Lins de Barros,
lucipotenciada por Álvares de Azevedo em 09/07/2010
poça d’água
ResponderExcluirsob meus pés as nuvens
e as estrelas abaixo delas
além muito além
da teoria de toda matéria - há matéria -
no infinito meus pés
estão encharcados
não de chuva nem de orvalho
não de suor ou urina do caralho
nem de lágrimas do corpo
nem da brisa em sopro
mas de água da poça
que ainda há no gramado
ali onde meus pés
sobre a grama entre os talos
se refletem na lâmina fria
que se converte em poema
nada se ouve senão os sentidos
dos sonhos que redivivo
agora as estrelas
em estridentes alaridos
entre tristes dentes me enxaguam
de lágrima suor e urina que vazam
- sobre meus pés -
ali onde o silêncio habita o cosmos
que neste convés se revela fósforo
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